segunda-feira, 9 de julho de 2018

COMO AVALIAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL?




Por: Mara Mansani - Nova Escola 


Em minhas trocas com professores de todo o Brasil, acabo conhecendo muitos alfabetizadores mas também muitos professores da Educação Infantil. Um tema que sempre está nas nossas conversas, tanto informais quanto as que tenho com as professoras de quem sou formadora, é a avaliação.

Avaliar é uma tarefa complexa em qualquer etapa de ensino, e não seria diferente na Educação Infantil. Acredito, inclusive, que seja ainda mais complexo esse processo com os pequenos, talvez porque nós, professores, não tenhamos uma formação adequada. Além disso, durante muito tempo a devida importância da Educação Infantil não foi reconhecida. Mas como eu já disse em outro post, agora é chegada a hora e a vez da educação Infantil, que está presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e finalmente também no PNAIC.

E as dúvidas sobre avaliação são muitas: O que avaliar? Como? Quando? O que fazer com os resultados?

Fui buscar ajuda em referências oficiais. O Ministério da Educação, no texto "Educação Infantil: Subsídios para a construção de uma sistemática de avaliação" explicita:

"A avaliação será sempre da criança em relação a si mesma e não comparativamente com as outras crianças. O olhar que busca captar o desenvolvimento, as expressões, a construção do pensamento e do conhecimento (etc.) deve identificar, também, seus potenciais, interesses, necessidades, pois, esses elementos serão cruciais para a professora planejar atividades ajustadas ao momento que a criança vive. A avaliação ocorre permanentemente e nunca como ato formal de teste, comprovação, atribuição de notas e atitudes que sinalizem punição." (pag. 14).

No meu ponto de vista, os principais problemas e as dúvidas na avaliação vêm dessa dificuldade de compreendermos a criança como sujeito histórico e social, e sua subjetividade. Quando o professor foca no que a criança é ou não capaz de fazer, não consegue perceber toda a evolução e o desenvolvimento da aprendizagem dos seus alunos. E como é fácil cair na armadilha da avaliação como meio de comprovação de resultados. Acredito que isso aconteça devido à forte pressão por resultados que muitos docentes sofrem em sua rede de ensino.

É necessário compreender a avaliação como norteadora de caminhos no processo de aprendizagem das crianças. Avaliar é acompanhar essa trajetória, levando em conta suas mudanças e transformações. Segundo Vygotsky, precisamos levar em conta também as potencialidades cognitivas das crianças. Para isso, é preciso oportunizar práticas que sejam desafiadoras e provocativas aos pequenos.

As Diretrizes Nacionais Curriculares para a Educação Infantil já apontavam, desde 2010, a necessidade de criar procedimentos para acompanhar o trabalho pedagógico e avaliar o desenvolvimento das crianças. Há diferentes maneiras de registrar essa avaliação, e como elas são importantes!

Conheço redes e professores que usam as chamadas fichas descritivas, onde são assinalados aspectos do desenvolvimento infantil, que nem sempre contemplam todos os aspectos e muitas vezes enfatizam os atitudinais. Outros registram em forma de relatórios individuais. Há também quem utilize instrumentos de avaliação adaptados do Ensino Fundamental, e justamente por isso nem sempre são adequados para registrar o desenvolvimento dos pequenos, que tem pontos mais específicos para observar. Já conheci uma rede de ensino em que alguns registros avaliativos eram feitos em gravação de vídeos, pois se tratava de avaliar a oralidade. Bem interessante!

Uma prática de registro da avaliação que acredito que seja bem adequada e eu, particularmente, gosto de adotar, é a criação de portfólios. Eles são compostos por relatórios, fotos, atividades das crianças, fichas descritivas e outros elementos, uma combinação de diferentes instrumentos. Em uma versão digital, é possível incluir também os vídeos mencionados anteriormente, por exemplo.

O portfólio, quando bem estruturado e produzido, é um raio-x, uma fotografia da turma e também de cada aluno. Tenho encontrado cada vez mais professores que usam esse instrumento, mas não achem que é fácil: exige tempo, preparo e estudo do professor, e pode ficar bem complicado com uma turma grande.

Finalizo com as dicas de Jussara Hoffmann, especialista em avaliação, em seu livro Um olhar sensível e reflexivo sobre a criança: 

"O professor, na condição de avaliador, terá, então, como objetivos:
a) manter uma atitude curiosa e investigativa sobre as reações e manifestações das crianças no dia a dia da instituição;

b) valorizar a diversidade de interesses e possibilidades de exploração do mundo pelas crianças, respeitando sua identidade sociocultural;

c) proporcionar-lhes um ambiente interativo, acolhedor e alegre, rico em materiais e situações a serem vivenciadas;

d) agir como mediador de suas conquistas, no sentido de apoiá-las, acompanhá-las e favorecer-lhes desafios adequados aos seus interesses e possibilidades;

e) fazer anotações diárias sobre aspectos individuais observados, de forma a reunir dados significativos que embasem o seu planejamento e a reorganização do ambiente educativo."

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